De A a Z para a Música na Educação

De A a Z para a Música na Educação... por Cristina Brito da Cruz

Cristina Brito da Cruz

Completou o Curso Superior de Piano (EMCN), a Licenciatura em Engenharia Civil (IST), uma Pós-graduação em Pedagogia Musical (Kodály Institute - Hungria) e o Mestrado em Ciências Musicais, no ramo de Etnomusicologia (UNL).

Começou nos anos 70 a lecionar formação musical (FM), piano, harmonia e acústica na Academia Luísa Todi, e nos anos 80 lecionou na Academia de Amadores de Música e no Conservatório Nacional. É docente na Escola Superior de Música de Lisboa desde 1991, coordenando actualmente a Variante de Composição, Direção e Formação Musical da Licenciatura em Música e presidindo ao Conselho de Representantes. Foi Presidente do Conselho Pedagógico e do Conselho Técnico Científico da ESML (2001 a 2015).

Tem colaborado nas áreas de formação de professores e de investigação com a ESMAE, Universidade Nova de Lisboa, ESELx, Universidade de Aveiro, Universidade Católica do Porto, Instituto Piaget de Almada, conservatórios, escolas de música e outras instituições, como a APEM, a DRC Açores, o Centro Nacional de Cultura, o Museu da Música Portuguesa, a Fundação Calouste Gulbenkian, vários centros de formação e outras instituições. Tem orientado workshops em Portugal, Espanha, Bélgica, Hungria e Cabo-Verde, e participado em projetos da Yehudi Menuhin Foundation (Bruxelas) e da Association Europeénne des Conservatoires (Utrecht) desenvolvidos em vários países europeus (Portugal, Espanha, França, Bélgica, Holanda, Dinamarca, Suécia, Alemanha, Suíça, Áustria, Hungria, Itália, Malta, Grécia e Turquia). Os artigos que publicou no âmbito da Educação Musical e da Etnomusicologia estão disponíveis no Repositório do Instituto Politécnico de Lisboa.

Com Helena Vaz da Silva fundou a Associação Yehudi Menuhin Portugal (27/01/2000), sendo actualmente membro da Direção presidida por Guilherme de Oliveira Martins. Propôs, com Manuela Encarnação, a criação do Centro Kodály de Portugal (CKP), integrado na APEM. Após aprovação da Assembleia Geral (7/7/2017), foi nomeada Directora do CKP. O governo húngaro agraciou-a com uma Cruz de Mérito em Outubro de 2017.

Clique no seguinte link para ler este A a Z:

A

de Avós, de Afectos, de Audição, de Artur Santos.

Porque tudo se liga! Os meus avós, os vossos avós, os avós dos nossos filhos, nossos pais, pela importância que tiveram e têm nas nossas vidas, porque o passado é importante para a construção do futuro; os afetos pela importância que têm na nossa relação com a música, nas nossas memórias familiares, nas de mestres, de alunos, de colegas, de amigos, daqueles com quem fizemos e ouvimos música.

A audição musical, audição interior, audiação e a audição ativa, as capacidades de saber ouvir, de sentir, reagir e compreender a música que “imaginamos”, que ouvimos e que fazemos, capacidades de compreender e de nos relacionarmos com os outros.

O Professor Artur Santos (1914-1986), que foi durante 7 anos meu professor de composição, no Conservatório Nacional. Compositor e “folclorista científico” seguiu as orientações teóricas de Kodály e Bartók, tal como Lopes Graça, sendo um dos precursores da etnomusicologia em Portugal. Defendi a dissertação de mestrado em etnomusicologia na UNL, sob a orientação de Salwa Castelo-Branco, com o título Artur Santos e a Etnomusicologia em Portugal (1936-1969).

Pode ser consultada em:

https://run.unl.pt/handle/10362/15218

B

de Bartók (Béla Bartók 1881-1945), o pianista, o compositor, o etnomusicólogo, o amigo de Kodály, o húngaro nascido na atual Roménia que se exilaria nos Estados Unidos, atravessando o Atlântico a partir de Lisboa.

O génio que Fernando Lopes Graça conheceu em Paris e a quem não conseguiu dirigir palavra, o génio sobre cuja obra Lopes Graça escreveria como ninguém, aqui em Portugal.

Bartók, o emigrado que viveu em Nova Iorque com grandes dificuldades económicas e a quem outros músicos geniais encomendaram obras para o ajudar a sobreviver, como Joseph Szigeti e Benny Goodman (1940, Contrastes, para violino, clarinete e piano), Yehudi Menuhin (1944, Sonata para violino) e Sergei Kussevitzki, regente da Orquestra Sinfónica de Boston (1944, Concerto para Orquestra, composto em sete semanas).

Bartók acabou a revisão do Concerto para Orquestra em Fevereiro de 1945, já diagnosticado com leucemia. Morreria a 25 de Setembro desse ano, longe da sua Hungria, onde um ano antes os ocupantes alemães tinham sido substituídos pelos ocupantes soviéticos.

Em Junho de 1988 os restos mortais de Bela Bartók foram trazidos para o cemitério de Buda, por decisão dos seus filhos, Béla e Peter Bartók.

Bartók:Contrasts For Violin,Clarinet&Piano-Szigeti,Goodman&Bartok (YouTube)

Bartók: Sonata for violin Tempo di ciaccona Yehudi Menuhin (YouTube)

Bartók: Concerto for Orchestra Koussevitzky/3D Sound (gravação de 1944 no YouTube)

C

de Centro Kodály de Portugal (CKP), criado a 07/07/2017 na Assembleia Geral da APEM, presidida pela Professora Teresa de Macedo.

Em 1975, um grupo de professores e alunos húngaros foram trazidos a Portugal, pela então Diretora da APEM, Maria de Lourdes Martins, para realizarem classes de demonstração. Em 1986/87 as primeiras estudantes portuguesas frequentaram o Instituto Kodály em Kecskemét (cidade natal de Kodály) que tinha sido visitado por Lopes Graça no ano da sua inauguração em 1975: Rosa Maria Torres e eu, seguidas quatro anos depois por Fátima Antunes, que vive em Macau.

Orientei a primeira ação de formação Kodály em 1988, na Academia de Amadores de Música, a convite da APEM. Nos quase 30 anos que decorreram desde então orientei dezenas de ações de formação, por todo o país.

Em 1998, a Rosa Torres publicou um livro sobre a adaptação da metodologia Kodály ao caso português. A partir de 2008, com a mobilidade permitida pelo programa Erasmus, um estudante da Universidade de Aveiro, uma estudante da ESE do Porto e cerca de 40 alunos da Escola Superior de Música de Lisboa frequentaram o Instituto Kodály. A partir de 2008 organizei visitas de estudo de uma semana (com 70 alunos e professores envolvidos) e uma dezena de portugueses frequentaram os International Kodály Seminars, em Kecskemét, onde também lecionei de 2009 a 2013.

Existindo finalmente um corpo de profissionais com formação Kodály, decidiu-se criar o CKP que tem como objectivos:

“1. Divulgar a filosofia Kodály nas áreas da investigação, etnomusicologia, educação, composição e performance da Música.

2. Promover ações de formação, seminários, publicações, encontros de coros, concertos e outras iniciativas artísticas, científicas e/ou pedagógicas que se enquadrem nas competências do CKP.

3. Apoiar e acompanhar músicos, investigadores e professores que desenvolvam ou queiram desenvolver projetos com base na filosofia Kodály.”

http://www.apem.org.pt/centro-kodaly-portugal/

D

de Dalcroze (Émile Jacques-Dalcroze 1856-1950), o pai dos métodos ativos de pedagogia musical, criador do método conhecido como A Rítmica de Dalcroze (Eurhythmics) e personalidade fundamental para divulgação do Solfejo Cantado como técnica de aprendizagem.

Em Portugal, ficará ligado a esta metodologia o legado da Professora Margarida de Abreu, bailarina e professora de Ballet que estudou com Dalcroze na Suíça.

https://dalcrozeusa.org/index.php/history

International Conference of Dalcroze Studies, Canadá, 2017

E

de Escola Superior de Música de Lisboa (ESML), a “minha casa” há mais de 20 anos.

Visitem o site e venham aos concertos da escola, se gostam de ouvir repertório para solistas, música de câmara, coros, orquestra de cordas, orquestra de sopros, orquestra sinfónica, de ópera, de combos e de Big Band de Jazz, de música antiga até à contemporânea, de música eletroacústica ou mista, com estilos e géneros ecléticos, mas todos de grande qualidade musical e artística.

https://www.esml.ipl.pt/

F

de Filhos, porque o contexto em que se nasce e se vive nos molda e nos proporciona experiências únicas e gratificantes. Orgulho-me do percurso dos meus três filhos. A do meio (Maro) está a iniciar uma carreira musical:

https://www.facebook.com/marianaforjazsecca/

G

de Gulbenkian, de Graça e de Gordon pela sua importância na música na educação em Portugal.

Calouste Sarkosian Gulbenkian (1869-1955) transformou a vida cultural em Portugal através da Fundação Calouste Gulbenkian (FCG), criada em 1956.

Comecei a estudar música na FCG aos cinco anos (1964), frequentando os Cursos de Iniciação Musical (Raquel Simões), as aulas de Piano (Vitória Reis), de Instrumental Orff (Maria de Lourdes Martins), de Flauta de Bambu (Inês Mazoni) e o Coro Infantil (Leonor Moura Esteves).

Edgar Willems vinha regularmente a Portugal orientar a formação destes nossos (então) jovens professores. Orff veio assistir a aulas de Maria de Lourdes Martins, dadas em Setúbal. Nós, as “crianças da Gulbenkian” tivemos uma formação inicial de exceção e não admira que tantos, agora na casa dos 50 e 60 anos, sejam músicos e professores de música.

Ao longo dos anos, e muito graças a Madalena Perdigão, que foi também presidente da APEM, a FCG foi organizando seminários com os mais proeminentes pedagogos: para além de Willems e Orff, foi na fundação que conheci Edwin Gordon e Murray Schafer, por exemplo. E os Encontros anuais da APEM são realizados nas instalações da fundação.

É também de elementar justiça lembrar a importância do Coro e da Orquestra Gulbenkian, bem como a do saudoso Ballet Gulbenkian, e os milhares de concertos sinfónicos, de câmara e dos melhores solistas mundiais que, nestes mais de 60 anos, a fundação tem proporcionado.

https://gulbenkian.pt/

https://gulbenkian.pt/fundacao/calouste-sarkis-gulbenkian/

Fernando Lopes Graça (1906-1994), que conheci na Academia de Amadores de Música onde leccionei nos anos 80 integrando, com Alexandre Branco Weffort, a Direção Pedagógica presidida por Paulo Valente Pereira, foi uma das personalidades de referência da cultura musical do século XX em Portugal. Weffort publicou o livro A Canção Popular Portuguesa em Lopes Graça (2006) que vale a pena ler.

Em 2016, e numa escala mais modesta, publiquei o artigo “Música, Educação e Cultura, segundo Lopes Graça”, disponível em:

http://repositorio.ipl.pt/handle/10400.21/6767

Edwin Gordon (1927-2015), o pedagogo e doutorado em Psicologia da Música que conheci logo na sua primeira vinda a Portugal em 1995, trouxe-nos aprendizagens musicais destinada a recém-nascidos, uma sólida Teoria de Aprendizagem Musical, o enfoque em “como se aprende” e não apenas em “como se ensina” e a sua personalidade absolutamente cativante.

Em 2015 foi criado em Lisboa o Instituto de Aprendizagem Musical Edwin Gordon (IAMEG), por um grupo que incluía a Professora Doutora Helena Rodrigues, da Universidade Nova de Lisboa, a quem devemos a introdução da metodologia em Portugal.

https://www.giamusic.com/bios/edwin-gordon

http://cesem.fcsh.unl.pt/event/workshops-teoria-de-aprendizagem-musical-de-edwin-gordon

H

de Hungria, pela gratidão que tenho a este país por tudo o que lá aprendi, por tudo o que os meus alunos lá aprenderam, pelos músicos extraordinários que conhecemos e com quem fizemos música, pelos amigos de todo o mundo que ali fizemos e também pela Cruz de Mérito do Estado Húngaro, com que fui agraciada a 13 de Outubro de 2017 nas comemorações da criação do Centro Kodály de Portugal.

Se estão a contemplar estudar na Hungria, vale a pena consultarem os sites da Academia Liszt e do Instituto Kodály:

http://zeneakademia.hu/en/home e http://www.kodaly.hu/

I

de Imaginar. Visualizar imagens e movimentos, ouvir sons e palavras, planificar ações, improvisar e criar, imaginando. Imaginar futuros, criar equipas e laços, construir.

Sem imaginação somos menores e provavelmente menos felizes. São sinónimos de imaginar [https://www.sinonimos.com.br/imaginar/]:

“sonhar, fantasiar, criar, conceber, idealizar; elaborar, traçar, planejar, idear, inventar, projetar; achar, prever, supor, prognosticar, presumir, pressupor, julgar, conjecturar, crer, acreditar; concluir, identificar, saber, descobrir, atinar; refletir, pensar, meditar, cismar, considerar.” Pois então, imaginemos!

J

de ! Porque é mesmo importante não procrastinar, não adiar, não deixar nada para depois.

K

de Kódaly (Zoltán Kódaly 1882-1967). Vale a pena verem o vídeo “Safeguarding of the folk music heritage by the Kodály concept”, da Unesco (YouTube), de que transcrevo as palavras iniciais:

“Yehudi Menuhin summarized the significance of Zoltán Kodály’s life work as follows: He left three living monuments to his Homeland and to Mankind: his musical compositions, the folk-music research he completed jointly with Béla Bartók and last, but not least, his new method of teaching music to children.

Let music belong to everyone! But how can we make it widely accessible? This is the question I have been pondering since I reached the mezzo del cammin, or the midway point of my life - wrote the 70 years old Kodály in the dedication of an anthology of his writings.

The world renown Hungarian composer, ethnomusicologist, Professor of Composition of the Hungarian Academy of Music, former President of the Hungarian Academy of Sciences, later, President of the International Folk Music Council and Honorary President of the International Society for Music Education, and granted Honorary Doctorates by numerous universities, considered facilitating the accessibility of all strata of society to the possibilities and benefits of Music Education to be his most urgent task. Starting in the mid 1920s together with former students and enthusiastic school music teachers, he revolutionized the Music Education system, in Hungary.”

E, se puderem, ouçam algumas das obras que Kodály compôs, como por exemplo:

Janos Starker - Kodály Cello Solo Sonata

Kodály Girls’ Choir – Mountain Nights (Hegyi Ejszakak)

Kodály: Dances of Galánta / Fischer, Berliner Phiharmoniker

Zoltán Kodály: Psalmus Hungaricus, Op. 13, Kertész, London Symphony Orchestra

L

de Literacia musical. Porque ouvir música não pode ser apenas um embalo de quem ouve uma linguagem exótica que não percebe de todo; porque cantar não é aprender música como um papagaio que repete o que lhe ensinam, sem sentir, nem perceber o significado musical do que repete; porque tocar é mais do que a repetição mecânica de gestos até à exaustão.

Formemos pessoas cultas, que saibam ouvir e cantar e, de preferência, tocar. Que saibam ler uma partitura como sabem ler um livro, em silêncio, também. Formemos músicos e amadores cultos e conhecedores, que valorizem e atribuam sentido à música que prezam.

M

de MÚSICA PARA TODOS, num processo de aprendizagem que as crianças devem começar cedo, cedíssimo: de preferência “desde que a avó está grávida da mãe”, como disse Kodály.

Música que fruímos ouvindo, cantando, tocando ou dirigindo. Música nas obras que estudamos, que aprendemos, divulgamos e ensinamos, nas obras compostas ou improvisadas.

A música de que vivemos, com quem convivemos por vontade própria e/ou por obrigação profissional, por prazer ou porque não poderia ser doutro modo, nem quereríamos que o fosse.

E música para todos no MUS-E, Musique à l’École - Artistas na Escolas, na sua versão portuguesa - o projeto de Yehudi Menuhin que em Portugal começou em 1996, sob a minha coordenação e que continua, graças ao esforço de tantos, em escolas de meios económicos desfavorecidos, levando semanalmente a expressão dramática, músicas e danças, de diferentes culturas e tradições, a muitas crianças do pré-escolar e do 1º ciclo.

N

de NÃO! Não desistir de sonhar, não recuar perante as adversidades, não acreditar em impossibilidades, não desanimar, não aceitar o inaceitável, não ir contra os nossos princípios, não parar de aprender, não perder a curiosidade, não deixar de acreditar.

O

de Orff (Carl Orff 1895-1982), o compositor e pedagogo que criou a Orff Schulwerk adaptada em Portugal por Maria de Lourdes Martins. O lugar de destaque que este compositor atribuiu à improvisação, na pedagogia musical, e que é atualmente muitas vezes relegada para segundo plano por muitos dos que se dizem seguidores do método de Orff. O Instrumental Orff que podemos encontrar na maioria das escolas de música e nas escolas do ensino genérico e que é provavelmente o aspecto mais visível da Orff Schulwerk. Muitas vezes a aprendizagem musical feita através da execução do Instrumental Orff está condicionada à leitura ou à execução de motivos e ostinatos que o professor ensina a cada criança. A improvisação deixou nesses casos de ser a atividade privilegiada de quem usa o instrumental Orff, num claro desvio dos princípios inicialmente formulados. No Instituto Orff, sediado na cidade austríaca em que nasceu Mozart, Salzburgo, leccionam-se currículos anuais e cursos de verão onde se aprende o método de acordo com os princípios do seu criador.

http://www.orff.de/en/institutionen/orff-institute.html

P

de Portugal, um país com um passado de 878 anos que tem de investir na educação e na cultura para ter um futuro melhor.

O reino nascido em 1139 e reconhecido pelo tratado de Zamora a 5 de Outubro de 1143, que teve Afonso Henriques como primeiro rei e o jovem D. Manuel II como último rei, depois do regicídio de 1 de Fevereiro de 1908.

O país em que a República foi implantada também a 5 de Outubro, mas de 1910. O país em que o regime do Estado Novo durou 41 anos, iniciando-se em 1933, com os ideais de Salazar concretizados numa Constituição, e terminando com a Revolução dos Cravos, a 25 de Abril de 1974.

Em 1986, Portugal foi o 12º Estado a integrar a União Europeia, que atualmente é constituída por 28 países.

O português é a sexta língua mais falada do mundo depois do chinês, do espanhol, do inglês, do hindu e do árabe. Quase 270 milhões de pessoas são cidadãs de países que têm o português como língua oficial. São 9 os países que pertencem à CPLP, em 4 continentes: o Brasil, Moçambique, Angola, Portugal, a Guiné-Bissau, Timor-Leste, a Guiné-Equatorial, Cabo Verde e S. Tomé e Príncipe, aqui ordenados por número de habitantes. Também se fala português em Macau, agora parte integrante da China. Que percentagem de portugueses conhecerão todos estes dados?

https://www.cplp.org/

Q

de Quem é quem? O extraordinário e colossal trabalho de investigação de uma numerosa equipa de especialistas que resultou na publicação pelo Círculo de Leitores dos 4 volumes da Enciclopédia da Música em Portugal no Século XX, sob a Direção da Professora Doutora Salwa Castelo-Branco (2010), permite-nos conhecer músicos, colectores e estudiosos, instrumentos, festividades, géneros performativos e tradicionais, campos de estudo, instituições e, com grande probabilidade, tudo o que procurarmos sobre músicos, musicologia e etnomusicologia em Portugal no Século XX.

São “mais de 1200 entradas, cerca de 1500 páginas (360 por volume), 550 fotografias, índice temático e onomástico” (informação da página do INET-md).

No IV volume encontramos ainda o capítulo “Do século XX ao século XXI: processos, práticas musicais e músicos emergentes”, de leitura obrigatória.

http://www2.fcsh.unl.pt/inet/publicacoes/enciclopedia/pagina.html

R

de Revistas da especialidade. A Revista Educação Musical da APEM que “pretende continuar a ser um marco distintivo no panorama da música e da educação do nosso país, através da publicação de artigos científicos, reflexões sobre boas práticas, reportório original para a infância, notícias importantes para professores, músicos e investigadores, ou recensões de livros, entre outras coisas.” Para além da revista, de publicação anual, a APEM publica online uma Newsletter mensal e artigos de opinião.

http://www.apem.org.pt/publicacoes/newsletter-da-apem.php

A Revista Glosas, do Movimento Patrimonial pela Música Portuguesa (mpmp), fundada em 2010, que “é a única revista no mundo dedicada exclusivamente à música de compositores lusófonos. Preenchida, entre outras, por diversas notícias, críticas, artigos científicos, crónicas e entrevistas sobre o meio musical lusófono, cada número homenageia um compositor em particular, destacando-o na capa e dedicando um largo número de páginas à sua vida e obra.”

https://pt.wikipedia.org/wiki/Glosas

http://mpmp.pt/edicoes/glosas/

A Revista Portuguesa de Musicologia. Portuguese Journal of Musicology que “é publicada online duas vezes por ano e inclui dossiers temáticos e artigos de investigação, assim como recensões de livros, fonogramas e outros suportes digitais. O português e o inglês são as línguas preferenciais, mas a revista aceita igualmente artigos em espanhol, francês e italiano.”

http://rpm-ns.pt/index.php/rpm/index

S

de Suzuki, de Schafer, e de Swanwick, pedagogos de três continentes, conhecidos e respeitados mundialmente. De Shin’ichi Suzuki (1895-1995) saliento a aprendizagem instrumental com o apoio parental, por imitação, de ouvido, em aulas individuais ou de grupo, e também os concertos com centenas de crianças e jovens violinistas que o japonês autor de Nurtured By Love: A New Approach to Education (1969) organizava, e que o popularizaram em todo o mundo.

A Academia de Música de Lisboa e o trabalho de Filipa Poejo e da sua equipa, com a orquestra Os Violinhos, são um bom exemplo de aplicação do método Suzuki em Portugal.

Inicialmente aplicado à formação de violinistas, o método foi progressivamente sendo adaptado para a aprendizagem de outros instrumentos musicais.

http://internationalsuzuki.org/shinichisuzuki.htm e https://europeansuzuki.org/

http://www.violinhos.net/orquestra.html

Murray Schafer (n. 1933) é mundialmente conhecido pelos seus criativos Soundscapes, pela valorização do silêncio e pelas novas formas de ouvir e de improvisar que defendeu. O compositor e pedagogo canadiano é autor de livros como The Composer in the Classroom (1965), The New Soundscape (1968), When Words Sing (1970) ou The Tuning of the World (1977) e foi o mentor e coordenador do World Soundscape Project da Simon Fraser University (SFU).

Listen (escucha) Murray Schafer (YouTube)

(sobre o World Soundscape Project)

Keith Swanwick (n. 1937), o britânico que defendeu a tese de doutoramento Music and the Education of the Emotions (1974), e que publicou Music, Mind and Education (1988) e Teaching Music Musically (1999), por exemplo, mundialmente conhecido como editor do British Journal of Music Education e como o primeiro Chairman do British National Association for Education in the Arts (1987). De referir ainda a sua Teoria da Espiral do Desenvolvimento Musical e a formulação estruturada do CLASP (Composition-Literacy-Appreciation-Skills-Performance). Tem trabalhado em Portugal em estreita colaboração com o Professor Doutor José Carlos Godinho, professor coordenador da ESE de Setúbal.

http://www.imerc.org/people/18-professor-keith-swanwick

T

de Torres, Rosa Maria (1998) As Canções Tradicionais Portuguesas no Ensino da Música. Contribuição da Metodologia de Zoltán Kodály. Lisboa: Caminho. Um livro que dou a conhecer a todos os meus alunos de Pedagogia Musical e que tem uma coleção de mais de 60 músicas tradicionais portuguesas, analisadas e organizadas metodologicamente, é útil para vários níveis dos ensinos genérico e especializado da música.

http://www.apem.org.pt/associacao/noticias/index.php?post_id=81

U

de Universidades e da sua relação com os Institutos Politécnicos, os dois sistemas de ensino superior em que se aprende música em Portugal. Testemunhar sobre o tratamento preferencial que o Estado português dá às Universidades, por exemplo relativamente ao financiamento dos cursos de música, ou às carreiras docentes e sua remuneração, às condições dadas à investigação e à mobilidade internacional, aos anos sabáticos concedidos ou impossíveis de conseguir. Relembrar a legislação publicada à altura da criação dos cursos de música nos Politécnicos que pressupunha entregar os estudos teóricos de música às Universidades e os práticos aos Institutos Politécnicos. Constatar que atualmente as Universidades também têm ofertas educativas em Performance, e ainda bem. Constatar que, pelo menos em Lisboa, duas Universidades têm Doutoramentos na área da performance em que, maioritariamente, os responsáveis pelas Unidades Curriculares de Performance são professores do Politécnico (Escola Superior de Música de Lisboa). Perceber que a distinção entre universidades e politécnicos é clara, em muitos aspetos, e nada clara, em tantos outros. Sentir que há em Portugal um ensino superior que os nossos governantes consideram de 1ª, e outro que consideram de 2ª, sem que sejam critérios de qualidade a justificar a distinção que nos é imposta. Como docente do Politécnico acredito que melhores dias virão, por uma questão de justiça e até de bom senso.

V

de Vianna da Motta (José Vianna da Motta 1868-1948), menino prodígio, protegido do rei D. Fernando e da Condessa d’Edla, pianista virtuoso, e um dos últimos alunos de Liszt (1811-1886), a partir de 1885, e de Hans von Bulow (1830-1894), em 1887.

Viveu em Berlim e em Genebra, fez digressões europeias e tocou nos EUA, no Brasil e na Argentina, a solo e com músicos como Sarasate, Bernardo Moreira de Sá ou grandes cantores. Como compositor utilizou a música tradicional e textos de autores portugueses em obras que compôs (na Sinfonia à Pátria, por exemplo) e influenciou alguns compositores portugueses das gerações seguintes, na senda do nacionalismo no âmbito da composição.

Foi Diretor do Conservatório Nacional, depois de se instalar definitivamente em Lisboa (1917) e professor de várias gerações de pianistas portugueses, de que destaco Sequeira Costa, Luiz Costa e sua filha Maria Helena Sá e Costa (neta de Bernardo Moreira de Sá), Maria Cristina Lino Pimentel e Fernando Lopes Graça. Vianna da Motta publicou numerosos artigos em revistas portuguesas e alemãs.

(artigo de Teresa Cascudo)

José Vianna da Motta (1868-1948): Valsa caprichiosa (YouTube)

José Vianna da Motta (1868-1948): Liszt - Totentanz (1 of 2)

W

de Ward de Willems, de Wuytack três importantes pedagogos, influentes também na educação em Portugal.

Justine Ward (1879-1975), é a única mulher que integra o grupo de pedagogos de referência na Iniciação Musical. A talentosa pianista americana - filha de William Bayard Cutting, um dos fundadores da Metropolitan Opera Company de Nova Iorque - veio com 25 anos para França estudar Canto Gregoriano, conheceu Dalcroze, fez recolhas de música tradicional e teve uma enorme influência no sistema de educação musical americano, através dos manuais para o ensino da música que publicou. O Instituto Gregoriano de Lisboa fez formação de professores e utilizou este método durante muitos anos, com grande sucesso, até por Júlia Almendra, a fundadora do Centro de Estudos Gregorianos ter feito o Curso Ward, em Paris. Em 1950 realizou-se a I Semana do Canto Gregoriano. As Semanas de Estudos Gregorianos continuam a realizar-se, anualmente, agora sob a direcção da Professora Doutora Idalete Giga que foi docente na Universidade de Évora e que traduziu os manuais de Justine Ward para português.

http://centroward.wixsite.com/centrowardlisboa

Edgar Willems (1890-1978) cunhou o conceito de Iniciação Musical (Initiation Musicale pour les tout petits). Pelo número de anos que trabalhou com docentes portugueses, a convite da Fundação Gulbenkian, e até por ter sido o primeiro pedagogo a fazer sistematicamente formação de professores em Portugal, marcou profundamente várias gerações de professores de música. Raquel Simões ficará para sempre ligada à adaptação para Portugal do método, bem como professoras como Salomé Leal e Ana Maria Ferrão, Luísa Gama Santos, Teresa Lancastre e muitos outros que obtiveram o Diploma de Educação Musical Willems.

https://www.fi-willems.org/pt-PT/

Jos Wuytack (n. 1935), pedagogo belga que no verão de 2017 deu o seu 45º e último curso em Portugal e que é “autor de diversos livros e artigos sobre educação musical, publicados em vários países”, também contribuiu para o desenvolvimento da Educação Musical em Portugal. O seu livro Canções de Mimar, dedicado às crianças, foi editado em seis idiomas. “A sua contribuição mais original para a moderna pedagogia musical, o sistema de Audição Musical Activa, destinado ao ensino da apreciação musical e baseado na metodologia do musicograma, foi editado em neerlandês (1972), francês (1974), português (1995) e espanhol (1996)”. De salientar a ação de divulgação deste método em Portugal feita pela Professora Doutora Graça Boal Palheiros, professora coordenadora da ESE do Porto, coautora de alguns dos livros de Wuytack editados em Portugal e fundadora da Associação Wuytack de Pedagogia Musical.

http://www.awpm.pt/

X

de Xenakis, que com a sua obra Cendrées para coro e orquestra, encomendada pela Fundação Gulbenkian e dirigida em 1974 por Michel Tabachnick no Grande Auditório da fundação, me proporcionou um primeiro contacto com organizações de sons que eu nunca tinha ouvido, muito menos cantado. Era na altura uma adolescente, membro do Coro Infantil Gulbenkian, e senti medo daquele estrangeiro com uma enorme cicatriz na face que veio assistir a alguns ensaios. Também senti o deslumbramento de fazer parte de algo importante, grande, enorme. Para qualquer criança/adolescente a experiência de fazer música num grande ensemble vocal e/ou instrumental é extraordinariamente marcante. Aqueles de nós que passaram pelo Coro Infantil da Gulbenkian, sob a direção da Sra. D. Leonor Moura Esteves, saberão exatamente a que me estou a referir. Atualmente há uma profusão de coros infantis, por todo o país, a fazerem um trabalho de grande qualidade e que têm uma visibilidade crescente. Os que são agora pais de crianças e jovens, que aproveitem a oportunidade de proporcionar aos seus filhos experiências riquíssimas que eles nunca esquecerão e que contribuirão para o seu desenvolvimento musical, individual e social.

Y

de Yehudi Menuhin (1916 – 1999) o chamado “Violon du Siècle” que conheci pessoalmente enquanto maestro, pedagogo e extraordinário humanista, em 1996, e que mudou radicalmente a minha maneira de ver a Educação e me aproximou de comunidades escolares com muito pouco acesso às artes. Entre o mundo do ensino especializado - em que eu tinha começado a estudar aos 5 anos e a leccionar aos 17 anos (1977) – e o contexto da Escola Nº 1 de Algés, onde iniciámos o MUS-E e que era frequentada por crianças de 12 países (mas maioritariamente descendentes de cabo-verdianos que viviam na Pedreira dos Húngaros) quase nada era comparável. Entre esses dois mundos existiam abismos que eu tive de atravessar voando e com pouca preparação para o fazer. Vieram depois escolas como a da Quinta do Alçada (Évora), a de Marrazes (Leira) ou a do Cerco (Porto) e fui aprendendo.

No MUS-E contei com a ajuda de pessoas extraordinárias, pelo seu saber-estar, pelo conhecimento da sua arte e pela sua dedicação a uma causa maior. Os seminários internacionais com Lord Menuhin (Budapeste, Perpignan, Bruxelas e Altea) também me proporcionaram experiências maravilhosas, tal como os encontros de coordenadores dos 12 países então com projetos MUS-E.

Ouço muitas vezes gravações de Yehudi Menuhin tocando grandes obras de música erudita, ou de outras músicas, com Ravi Shankar e com Stéphane Grappelli, vejo gravações de entrevistas, leio o que escreveu. Se puderem, visitem os sites:

Yehudi Menuhin - Violin of the Century

Who's Yehudi? - Yehudi Menuhin BBC documentary

Indian Classical Music : Ravi Shankar, Alla Rakha and Yehudi Menuhin Trio

Menuhin e Oistrack, Duplo Concerto de Bach.

Z

de Zoltán Kódaly (1882-1967), sim, outra vez, com um grande sorriso, por tudo o que proporcionou nos últimos trinta anos de carreira profissional, em escolas de música um pouco por todo o país, no continente e nos Açores, em Cabo Verde e, é claro, na Hungria. Também pelas obras musicais que compôs, por tudo o que escreveu e pelo que fui conhecendo dele, através de um seus dos grandes amigos, Yehudi Menuhin. E uma referência final a Sarolta Kodály, sua segunda esposa, actual presidente da International Kodály Society (IKS) e que tenho prazer de conhecer: por tudo o que tem feito pela educação de húngaros e de pessoas de tantos outros países, de todo o mundo, pelo apoio dado a pesquisas etnomusicológicas e pela divulgação de compositores húngaros, promovendo concertos e apoiando a publicações de partituras.

https://www.iks.hu/

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A APEM

A Associação Portuguesa de Educação Musical, APEM, é uma associação de caráter cultural e profissional, sem fins lucrativos e com estatuto de utilidade pública, que tem por objetivo o desenvolvimento e aperfeiçoamento da educação musical, quer como parte integrante da formação humana e da vida social, quer como uma componente essencial na formação musical especializada.

Cantar Mais

Cantar Mais – Mundos com voz é um projeto da Associação Portuguesa de Educação Musical (APEM) que assenta na disponibilização de um repertório diversificado de canções (tradicionais portuguesas, de música antiga, de países de língua oficial portuguesa, de autor, do mundo, fado, cante e teatro musical/ciclo de canções) com arranjos e orquestrações originais apoiadas por recursos pedagógicos multimédia e tutoriais de formação.

Saiba mais em:
http://www.cantarmais.pt/pt

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